quarta-feira, 22 de junho de 2011

A Espera

Se vestia apressadamente. Ela havia ligado para ele. Um bom sinal. Estava com saudade dela. Tinha que ver ela.

* * *

Sábado. 19h32min
Havia mais ou menos uma hora que esperava por ela. Estava muito nervoso. Suas mãos estavam molhadas. O coração, descontrolado. Só pensava nela. Como será que virá vestida? Ao menos virá? Estava a ficar apreensivo. Já fazia um tempo que não a encontrava. Pensamentos corriam soltos pela sua adolescente cabeça. Estava com um livro na mão. Sempre andava com um. Folheava, tentava ler, mas não conseguia. Acho que ela não vem. Por que daria uma chance para um garoto como eu? Ela não vem, melhor desistir dessa coisa medíocre de paixão. Veja a verdade: ela não gosta de você. Esqueça ela e vá embora. Perambulavam tantas coisas em sua cabeça que resolveu escrever. Era hábito seu andar com pequenos blocos de papel para anotações quaisquer. Pegou a caneta e começou a escrever. Poemas, como é comum aos jovens corações:

Nunca achei que ainda
Iria tremer
Por ansiedade de
Ver você

Talvez nada aconteça
Entre nós
Ou talvez a gente só
Precise ficar a sós

Fico pensando tantas
Coisas que poderia acontecer
Se estivéssemos juntos,
Só eu e você

Mas acho que ainda
Existe uma grande pedra
Entre nós
Que poderia ser destruída
Se estivéssemos a sós

Quero poder contigo estar
Sem nenhum medo;
Sem medo de te amar
Ou medo de algum segredo

Por enquanto,
Te espero
Na esperança que possamos
Nos amar com esmero

Mas ainda não te tenho
E do que me adianta
Tudo ter
Se o mais importante
Não tenho:
Que é você?


Talvez não fosse bom poeta, mas estava sendo corajoso em tentar traduzir em palavras as dores que sofria seu coração. Ele ainda tentava ler algo de seu livro, mas ela não saía de sua cabeça. Uma leve certeza estava a crescer dentro dele: Ela não vem. Uma grossa e solitária lágrima cai de seu olhar.
A certeza de que ela não viria crescia à medida que ele começava alimentar esse pensamento. Tentava ler, só que não era possível. Para piorar isso, chegara perto dele um casal de namorados aos beijos e carícias. Ver aquilo destruía o pobre coração do rapaz. Outro poema brota de sua caneta:

Que inveja sinto
Dos amantes!
Eles podem ter seus amores
E eu, nem mesmo que cante

Uma lágrima rola
Lenta do meu olhar
Que triste é não ser amado
Morrendo de amar

Que inveja sinto
Dos amantes!
Que injusto destino
É ter no coração um amor dilacerante!

A minha lágrima
Perde-se no forte vento
Que vem do mar.
É a lágrima do meu lamento
Que sofro por te amar.

Agora sofro
Por não poder mais rimar.
Sofro, sofro muito
Por muito te amar.


Ele terminou o último verso cansado. Cansado de esperar por um amor que não vinha; por um amor que nunca existiu; cansado de esperar uma ilusão que alimentou. Estava cansado.
* * *

Sexta-feira.
Meia-noite e treze.
- Felipe?
- Sim, é ele. Quem fala?
- Sou eu, a..., não reconhece mais minha voz?
- Que surpresa!
- Você está ocupado?
- Não, por quê?
- Vamos conversar um pouco então?
- Só que... agora!?
- Estou sem sono...
- Ok.
Conversaram bastante. Sobre muitas coisas. E logo esgotaram-se os assuntos e quando não se tem mais assunto, fala-se de coisas íntimas. Coisas de adolescente.
- Namorar com você? – havia certa surpresa na voz dela.
- Por que não?
- Não posso.
- Ou não quer?
- Não posso, Felipe.
- E namorar pelo telefone? – propôs Felipe logo se arrependendo da proposta.
- Nunca namorei assim.
- Te ensino então. – disse Felipe como se soubesse como era essa forma de namoro.
- Apenas se for por essa noite somente.
- Tudo bem. – sabia que seria assim.
A inocente conversa tornou-se libidinosa. Felipe se utilizava de todos os recursos possíveis para tentar conquistar sua querida. A conversar estava a terminar.
 - Tenho que desligar.
 - Você não pode desligar sem receber meu ultimo beijo. – falou Felipe num tom que oscilava entre o sério e o jocoso.
- Tudo bem, me beije. – ela entrou na brincadeira.
- Feche os olhos.
- Fechei.
- Agora imagine eu na sua frente. Começo a acariciar seu rosto com uma de minhas mãos, e com a outra faço carinhos em seu corpo. Aproximo meus lábios de sua orelha e beijo-a suavemente. Leves arrepios correm pelo seu corpo. Continuo te beijando e subindo até chegar a sua macia bochecha. Chego perto de teus lábios e subo até tocá-los, você abre eles lentamente e permite que minha língua massageia a tua. Meus lábios acariciam os teus. Seu corpo está junto ao meu. Colado. O beijo se torna mais intenso e seu corpo se junta ao meu. Depois lentamente afasto meu corpo do teu, meus lábios também se distanciam. Você continua com os olhos fechados. Te dou um curto beijo, e você devagarzinho abre os olhos e vê... que não estou do seu lado e que isso foi apenas um sonho.
- Meu Deus! – Ela não conseguiu disfarçar o forte suspiro que deu no telefone.
- Boa noite. Não se esqueça que te amo. – Felipe estava confiante.

Felipe desliga o telefone.
Ele tinha certeza que havia mexido com ela. Agora era ter paciência e ver o que aconteceria. Foi dormir tranqüilo.

Sábado. 10h21
O telefone toca insistentemente.
Felipe atende.
- Oi. Felipe?
- Sim sou eu.
- Oi! sou a...
- Oi, tudo bem? – sabia que me ligaria
- Tudo.
- Você me ligando numa manhã de sábado, que foi?
- É que eu e algumas amigas queremos sair hoje à noite, e queria saber se você tem algum programa pra essa noite.
- Não, não tenho. Aonde vocês vão?
Ela disse onde era e eles marcaram de se encontrar. Felipe era só felicidade. Passou o dia todo na maior expectativa. Pensava em como seria aquela noite.
O tempo, porém, tinha parado. Os ponteiros do relógio não se moviam. Felipe se trancou no seu quarto, ficou andando de um lado para o outro. Todo arrumado ele esperava. Roendo as unhas.
O relógio disse que o tempo chegara.

* * *

Ela ainda não havia chegado. Felipe começou a ter certeza. Ela não vem. Levantou-se. Foi a uma sorveteria que havia ali por perto. Esse sorvete eu poderia estar tomando com ela. Mas ela não havia ido. No entanto, Felipe achava que ainda tinha que esperar mais um pouco. Com seu sorvete em mãos, ele voltou e ficou no ponto de encontro. Acabara com o sorvete e nada. Começou a escrever de novo, dessa vez em prosa como se estivesse compondo uma carta:

Estou  nervoso. Estou esperando alguém. Esse alguém  é muito especial. Tenho grande carinho por esse alguém.  Amo esse alguém. Mas, por tudo que aconteceu entre eu e ela, parece que o sentimento não é recíproco. No entanto, ela continua alimentando minhas esperanças. E é por causa dessa maldita esperança, que eu espero por ela. Eu ainda alimento a ilusão de que algo especial possa acontecer entre nós. Sinto isso dentro de mim. E acredito no que sinto, mesmo que a razão me puna por isso. Mas sei que posso suportar a tortura da razão. O amor dribla a razão que me diz para me levantar e ir para casa. Porém o amor me torna pesado demais para que eu levante. É uma tremenda luta que presencio sem nada poder fazer. Sou um idiota, sei disso.


Nessas poucas linhas, Felipe colocou o que se passava em seu adolescente coração. Lágrimas começavam a jorrar de seus pequenos olhos, que fitavam a lua com uma tristeza profunda. Era um esperançoso. Ainda acreditava que ela viria. A razão gritava para ele ir embora, e do outro lado, com voz suave o amor dizia para ele ficar. Felipe resolveu escutar a segunda voz. O olhar dele perdia-se no horizonte escuro onde se refletia a luz do luar. Sente então algo vibrar no seu bolso: o celular. A pequena centelha de esperança que ainda lutava para manter-se viva no coração do pobre rapaz torna-se uma labareda forte e fumegante. Ele sabia quem estava ligando: ela.
- Desculpe o atraso, Felipe.
- Tudo bem. Onde está você agora?
- Olhe para seu lado esquerdo.
Felipe se virou e viu um pouco distante sua amada. Estava nervoso. Forçosamente começou a dar os primeiros passos. Ela estava sozinha. E estava linda, com uma sedosa blusa rosa, calça jeans, que  modelava o delineado corpo dela. Estava com os cabelos presos, o que ressaltava os traços suaves de seu rosto. Ela era uma obra-prima da natureza. Seu sorriso estava exuberante.
- Você está muito tempo aqui?
- Não, cheguei há pouco. -  mentiu Felipe.
- Ainda bem, não queria fazer você esperar.
- E suas amigas?
- Elas estão por aí.
- Então somos apenas nós – falou Felipe num arremedo de tom sedutor.
- Exatamente – disse ela, percebendo a intenção de Felipe.
Todo desajeitado, Felipe pega na mão de..., ela sorri para ele, que retribui com outro sorriso. O coração de Felipe palpita aceleradamente. Enfim ele estava do lado dela. Caminhando, eles conversavam distraidamente, quando então, subitamente, Felipe enche-se de uma coragem colossal e rouba um beijo..., e surpreende-se por ver que ela corresponde. Os lábios dela eram doces como fino mel. As mãos de Felipe tremiam e transpiravam. Ele estava beijando a razão de seus mais belos sonhos. Aquele momento tinha que ser eterno.
Quando então os lábios se afastaram, uma pergunta veio a Felipe tão subitamente quanto a coragem, mas ele hesitou em fazê-la. Como ela vai reagir? Há momentos em que pequenas coisas tomam grandes proporções. Uma simples pergunta estava afligindo Felipe. Ela estava-o engasgando. Tinha que fazê-la. Mas ele tinha medo de uma resposta inesperada. Isso o fazia tremer. Rapidamente seu paraíso tornou-se num inferno. Mas ele tinha que fazer aquela pergunta antes que ela o sufocasse. Sem jeito, ele começou.
-..., você... você...
- Que foi Felipe?
- É que eu... eu.. quero saber se você...
- Fala Felipe!
- É que eu quero saber se você... aceita ser minha... namorada. É isso! Você aceita ser minha namorada?
- Eu não posso. Já te disse isso – ela larga a mão dele e o olha no fundo dos olhos.
- Como não pode?! E o beijo?
- Não foi nada. – a voz dela não era mais doce – Eu só estava curiosa, mais nada. Deixa de ser idiota Felipe, você é muito legal, mas eu nunca namoraria com você. Sou muito bonita e você é muito... estranho. Só vive falando de livros que ninguém nunca leu e de filmes antigos. O beijo foi somente uma curiosidade minha só isso. Você é especial, mas não para mim.
Cada palavra de... cortava o coração de Felipe. Ele sabia que ela estava falando a verdade. Sabia que estava só iludindo-se quando achou que ela poderia corresponder seus sentimentos.
Felipe voltou para casa, entrou no quarto e chorou como uma criança sem carinho. Ele soluçava. Seu rosto estava encharcado de lágrimas. Como ele sofria! Mas aquelas seriam suas últimas lágrimas. Felipe renasceria outro depois daquele choro. Aquela seria a última vez que ele choraria por amor.

(Querido(a) leitor(a), não seja tolo! Não acredite que amor existe! Não derrame uma lágrima de paixão sequer! Goste apenas de quem gosta de você. Se alguém te faz sofrer, é porque não lhe merece.)
           

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